SEM CAUSA

Cada dia que passa, aumenta a minha triste constatação de que se o Cristo encarnasse mais uma vez, Ele seria rejeitado novamente, agora pelos religiosos de nossa época - nós.

Aliás, Ele já está sendo rejeitado hoje. Pois os pobres, miseráveis, doentes e excluídos não fazem parte de nossa agenda de vida (Mt 25:41-45).

Cultivamos uma agenda autofágica, se alimenta de si mesma. Cuja a causa, é a própria. Uma busca desenfreada por paz com Deus, enquanto não se busca o que Ele quer.
A vontade de Deus é que todos venham ao conhecimento da Verdade. A verdadeira religião é cuidar dos necessitados(Tg 1:27).
O Evangelho tem causas e pautas muito bem definidas.
Enquanto isso, seguimos nossa rotina litúrgica, nos satisfazendo com nosso culto e sacrifícios oferecidos a Deus, com o êxtase de louvores que podem durar horas seguidas, sem perceber o desprezo de Deus por isso, justamente por não sabermos discernir que tipo de culto, sacrifício e louvor Ele têm desejado (Am 5:21-25).
Verdade seja dita, nosso problema não é o desprezo pela vontade de Deus, mas sim a inversão de nossas prioridades, e a pretensão de fazer do nosso jeito.

Se quiséssemos, há muito o mundo já teria sido completamente alcançado com a mensagem do Evangelho, e nossas congregações seriam agentes de transformação social. Contudo, precisamos assumir a culpa que pesa sobre nós: essa não tem sido nossa causa, nem enquanto indivíduos e nem enquanto comunidades eclesiásticas.
Nossos trabalhos assistenciais carecem de consistência e profundidade, porque exige de nós um comprometimento além do que estamos dispostos a dar.
Gente não só custa caro, como também dá trabalho. Duas coisas que não queremos: gastar dinheiro e preocupação com outros.
O homem a beira do caminho é ignorado pelo Levita e Sacerdote, pois exige um engajamento além do que eles estão dispostos a dar fora de sua rotina religiosa (Lc 10:30-35).

Dizemos que evangelizamos "Jerusalém", para nos eximir da responsabilidade dos confins da terra. Esquecendo que a ordem é "tanto", ou seja, é sobre simultâneidade. E que "Jerusalém" não é nossa casa e nem nossa cidade (At 1:8).

Enquanto nossos recursos eclesiásticos giram quase sempre em torno de bens, construções e reformas. O índice de missionários abandonados no campo continua a ser alto.

Se tenho alguma intenção em escrever, é a despertar, conscientizar e denunciar.
Viva por uma causa. A Causa do Evangelho!

Que Cristo seja engrandecido e conhecido em nós e através de nós.

É com temor e tremor, que escrevo.

Ismael Batista